quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Fuga



A criatura que aterrisa no balcão da pia
é uma coisinha de cêra rosada e transparente.
Os olhos bolas pretas, esbugalhados.
Os dedos estirados agarrando o mármore,
o corpo tenso e inerte. Alerta.

A tua fragilidade e a tua pequenez
me comovem até o útero.
Mesmo assim (ou talvez, por isso mesmo)
você não cabe na minha vida.

Eu ofereço uma ponta de revista,
carona de volta à varanda.
Ela dispara parede acima, rumo a cantos escuros,
becos sem saída.

Sinto uma pontada quente de remorso.
Nalgum instante da vida fomos todos assim,
fetos espantados
apostando na tensão de superfície.



2 comentários:

Ricardo disse...

E aí alguns mergulharam nas imagens que flutuavam ao seu redor por que não sabiam respirar o ar e viraram poetas...

É bom observar estes mergulhos aqui da praia.

Lavínia Saad disse...

Praia! Que saudades da praia e das lagartixas no meu banheiro sempre ensaunado no Rio. Aqui em NY esta nevando e de neve lagarto nao gosta. Ou, se gosta, nao diz e se esconde de vez. E so sai aa noite. Da tres voltas em torno da minha cama, e se esconde de novo.