quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Carta sobre a leveza (para A.)



Caro amigo.
Andei pensando.
Se você se desfizer de todo o peso que carrega
Levantará vôo e sobrevoará a cidade
Feito um padre suspenso por uma penca de balões de festa
E teu vôo terá sido sem sombra de dúvida
16 minutos duma leveza extasiante
(Seguidos dum fim indecoroso em meio a um emaranhado de cordas
Num leito de borracha colorida boiando a tres leguas do cais do porto.

Te conto, amigo querido, que
Aos meus 27 anos de idade,
No interior de um país árido
No meio duma estória que ainda se desdobra
E que de tão complicada ficará sempre para outra vez,
Cheguei à conclusão que o desafio,
Na verdade, consiste em saber:

Amarrar a cada pé uma pedra
Atar a cada braço uma bigorna
Levantar sobre cada ombro uma viga espessa
Equilibrar no alto da cabeça
Cordilheiras e cordilheiras.
E mesmo assim

Correr sob céus estrelados
Sem duvidar que a sua consciência, enquanto leve,
Te permitirá carregar
Cada fardo que encontrar
E levar no coração, com leveza
Todo -- repito -- todo o peso deste mundo.

Caro A. Suponho que você tenha nascido
Moço de fretes. Leveza is not your business.
Carrega então os teus pesos
Com alegria.