terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Surubim


Na desova da piracema
quando pescador honesto
recolhe suas tarrafas,
o surubim, peixe de couro,
rastreia silencioso a barriga do rio.
Mas na feira de domingo
o pescador, homem de couro,
remendando a rede repete sempre:
surubim é peixe ignorante.
No São Francisco desceu a vida toda peixe morto.
Surubim não sabe saltar.
Sai de dentro d’água e, com a velocidade que vem,
bate com a cabeça na pedra
e morre na hora.
É essa a burrice do surubim,
apesar da dura carapaça que o reveste,
e das profundezas escuras de leito de rio,
das esquisitices do lodo negro em que
só surubim se atreve.


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