domingo, 4 de fevereiro de 2007

A primeira viagem de Kapuscinski (Ia parte)



O jovem Ryszard,
enxergando pela primeira vez o mundo
(bem maior do que ele tinha pensado)
sob as asas enegrecidas do DC-3,
comoveu-se.
Roma estendia-se ali embaixo:
Um enxame de luzes.
E logo, em Roma pousado,
perambulando pelas ruas:
histerismos de cores e de vozes.
Mesinhas nas calçadas.
Um mundo a muitos mundos
de Varsóvia. Do cinza impassível
que deixara atrás: sussurros afagando
a penumbra.
Ele lembrou da sua fome de fronteiras.
Quase uma obsessão: ver (e apenas ver)
o que havia do outro lado. E logo voltar,
a fome saciada. E nada mais.
E logo, o segundo trecho da sua jornada,
num pássaro de aço com mulheres de sári
que o guiaram até a India. Foi ver o homen,
o tal Nehru, que havia perfurado
o céu de Ryszard assim como ele, Ryszard, o fazia
agora com o céu de Nehru.
Déli à noite: um mar de branco no asfalto
se apartava à frente do táxi. Velhos e crianças
se levantavam pro mem sahib passar.
Quando um velho de turbante chegou no
Seu quarto com biscoitos e chá, o jovem
enrubrou-se, desnorteado pela servitude
de outro ser humano.

Um comentário:

Osvaldo Barreto disse...

Estou encantado com os seus textos.
Parabéns!!!