sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

sem título


Na sala de jantar
geleiras se desprendem da calota,
se lançam ao mar.
Coisas grandes suspiram e desistem,
rangem e racham, desmoronam.
Montanhas—
Abismos—
Paredes—
O chão.

As línguas de gelo
deitadas entre meus dedos.
O deserto entre meus seios— meu mar de Aral.
Uma fragata de pesqueiros atolada na areia.
O rei mandou cavar
um canal até a costa
mas esse mar se encolheu
até ficar só uma poça
no meio do deserto.
E não deu tempo.

Porquê você pensou que tudo iria quieto?
O mundo não funciona assim.
O gelo estala de raiva
como o mais estridente incêndio.
A areia enterra tudo
com um susurro escaldante.
O oceano engole as coisas
sempre burbulhante.
E a tudo isso prosseguem: silêncios sufocantes.

As coisas mal-cuidadas
mergulham nágua ou evaporam.
O rei mandou cavar um canal até a costa
mas não deu tempo.


Um comentário:

Osvaldo Barreto disse...

É incrível como escreve.
Parabéns!!!