sábado, 17 de março de 2007

Poema primeiro de guerra



Soldado de papel
Atravessando o detector de metais
Você vem ou vai pra sua guerra
E ela é ou não de papel?

Soldado
Ponha as suas botas em pé na bandeja de plástico
Soldado
Ponha a bandeja na esteira e vira pra mim
Escuta só

Ontem eu sonhei com as suas botas
E com os seus comandantes de papel
Eles me despachavam pra sua guerra
Pra dançar nos seus campos minados
Um balé muito mortífero e cômico demais
Eles foram generais generosos
Me puseram até um caixão de origami
No bolso da farda (Just in case)
E nas botas cadarços fortes como tripas

Mas soldado
Quando quando a guerra veio até mim

Ela já não era de papel

Ela furou a minha nuca

Onde eu ainda tinha

Penugem-de-nenê

Com bala de aço.

Soldado de cartulina com o seu
Fusil de cartulina
Pra quem ou por quem
Você se oferecerá
E com que desconto, parcelamento, com que
Ticket-refeição?


4 comentários:

Letras de Babel disse...

Ontem - 4 anos de guerra no Iraque.
Não mais que outra. Apenas mais visível.

...O soldado obrigado a oferecer-se

un dress disse...

"sacrifícioS humanoS!"

aceitam-Se candidaturaS!!



a.braÇo

Letras de Babel disse...

Outra coisa:

No blog do Ricardo falas dum espaço tri-continental...

Pensei que estivesses no Brasil. Não estás?

Lavínia Saad disse...

Nan-- sou brasileira, mas moro no Bushistão.

E te conto que uma vez, há uns dez anos atrás, mergulhei a mão direita no Tejo e ela nunca mais foi a mesma.


Bjs

LS