quarta-feira, 29 de abril de 2009



Tens a estrutura
Fina e suave.
Depois de tantos anos
As coisas assim
Ainda me enganam.
Uma curva dócil
Um toque leve
Palavras macias
Tomo nisso tudo
O viço pela arte,
Creio, e me deixo crer,
E me entrego como quem
Se revira e evazia:
Aqui me tens
Boca
lábios
entranhas,
Toma. Faz de mim
O que bem queres,
E tudo só
Porque me pareces gentil
E isso me move.
Porque tens a estrutura
Tão fina e suave.
Desengana-me
Pois.

5 comentários:

Razek Seravhat disse...

Formidável. Quer dera se eu pudesse fazer versos assim. Digo isso não com inveja mas com um profundo e admirável sentimento de sosseguidão que este poemar me proporcionou. É pena que este mundo virtual, ao passo que nos aproxima também nos afasta. Quisera você se pudesse ver o meu ar de poeta da dor e da melancolia de forma tão sossegado. Ou melhor, sosseguidão é a palavra que traduz tods essa metamorfose de impressão que ora me domina. Por fim deixo-te um convite: Se puder acesse lenitivocultural.blogspot.com

Ternos abraços poéticos, Razek

ilusão da semelhança disse...

Tomo nisso tudo
O viço pela arte,
Creio, e me deixo crer,
E me entrego como quem
Se revira e evazia.


Cara Lavinia. Pois Nietzsche nos capta exatamente no vico da arte, pela estetica.

Abraco grande, Chico

Victor Colonna disse...

Lavínia,
Parabéns pelo blog. Belos poemas, os seus. Sou poeta e cronista e criei um blog para divulgar meus trabalhos. Se puder, dê uma olhada lá! Segue aí um poema e uma crônica. Grande abraço!


CURTO-CIRCUITO (Victor Colonna)


De repente eu paro e olho: é ele!
E desengato marcha-a-ré crescente
Meu rosto fica roxo, vermelho
E desamarra-se o elo da corrente.

Curto-circuito, incêndio, tragédia!
E meu cabelo arrepiado espeta
E meu pulso desencapado te choca
E meu corpo endiabrado, capeta.

E meu peito pega fogo: vida
Um calor que se desprende e solta
Amor é caminho longo: é ida
É só ida. Não tem volta.



METAMORFOSE (Victor Colonna)


Musicalmente eu tenho andado na fase “Raul Seixas”.

Passo horas do dia ouvindo seus cds e especialmente “Metamorfose Ambulante”. É uma música genial, que fala da necessidade de mudar, de desdizer, de (se) contradizer o tempo todo. E como toda obra de arte é o que não é falado (o subtexto) que é o mais importante.

“Metamorfose Ambulante” é sobre insatisfação, sobre a vontade de ser ”inadaptado”, sobre a consciência de ser incoerente e a incoerência de ser consciente.

“Respeite as tradições”, “estabilize-se na vida”, “entre no esquema”, “não pise na grama”. Parece que é isto que o mundo politicamente correto nos diz sempre, silenciosamente, insidiosamente, nos transformando naquilo que não queremos ser. E ficamos engessados em empregos ruins, relações inócuas, amores amargurados, fórmulas pré-concebidas, regras universais.

Quantas vezes eu quero trabalhar num domingo às 7 da manhã, dormir às duas da tarde, ouvir o som da penumbra, embebedar as segundas-feiras, destruir os ícones, me irmanar com os bichos, rir com meus olhos míopes, chorar de desejo, rir de tristeza, repetir o que nunca foi feito e me deixar levar pra longe, pra chegar perto eu não sei nem de quê.

E aí eu escrevo!

Ivan Marinho de Souza disse...

Poucas pessoas expressam uma poesia de forma simples e profunda. Parabéns.

http://eriolmala.blog.uol.com.br/

MARILENE disse...

Navegando pelos blogs poéticos costumamos encontrar oásis dos quais nos afastamos com dificuldade. Você diz, apenas diz,
brinca com as palavras e faz poesia. O resultado encanta.