quarta-feira, 18 de abril de 2007
Réplicas (fiéis e infiéis)
Para Helena Istiraneopulos
O mundo é imenso
E esmagadoramente rápido.
Para Nelson Luiz de Oliveira
Futuramente
O presente nos parecerá
O passado revisitado
Feito mais eloqüente.
Eu aconteço ao mundo
Conforme o desejado
Ou é ele que me acontece
E assim me desmente?
Para Helena Istiraneopulos (II)
Meu encanto: mordes quinas.
Eis meu cocar: um botão-de-água.
Te sondo, xamã eu,
Com algum ungüento.
Me danças uma valsinha? Um minueto?
Minha Otília, me chegas
Empunhando facas, recitando crismas.
Pululam as tuas anáguas,
Ondulam nádegas e
Eu te ressinto no fígado.
Me desdentas assim e
Eu busco uma entrada-- uma valsinha de nada!—
Pra lamber a ferida.
Para Alessandra Espínola
Sou o inverso
Do teu verso.
És o reverso
Do meu universo.
Vide a bula:
Almas palíndromes.
Para Alessandra Espínola (II)
Sou o alvo.
Sou o ar que se aparta
Sou o sibilar da ponta
Sou o zumbido da seta
Sou a certeza da flecha
Sou a corda que estira
Sou a mão que repuxa
Sou o arco
A arqueira
Sou a mira.
Para Escobar Franelas
O passo que me traz a tarde
É o meu, e o mesmo afago:
Devolve, caro poeta
O meu olhar de favos
no engolir de pesadelos
Sou eu
Praquem o diabo, caro poeta,
Apenas basta.
Para Escobar Franelas (II)
filiação : etendam : fio d'aflição.
Para Alessandra Espínola (III)
Escondo tão bem ser um pouco triste
Escondo tão bem
No entanto, das minhas entranhas
(Quanto metal retorcido)
Brotam legendas, todas
De mapas alheios.
Para Luiz Guerra
No calor da chegada
Tudo se acomoda no apartamento novo—
Todas as xícaras,
Enfileiradas na estante, ecoam
O rebuliço das paredes.
Para Luiz Guerra (II)
Casamenteiras,
A todos podiam atar
Estas mães-países:
Juntar continentes, desmentir fronteiras,
Lacrar
Todo o seu vasto reino
Num só grão de arroz.
Para Elias Borges de Campos
Na testa da fera
Entre ponteiros certeiros
A menina espera.
Para Cristina Nunes
De dia, os cílios vivem separados
Cada um na sua, como que brigados.
Juntando-se apenas vez ou outra
Por centésimo de segundo
Para verificar que o colega
Ainda mora ali ao lado.
Quanto a noite cai,
Vence a camaradagem
De tantos anos de casamento.
Beijam-se as pálpebras
Entrelaçam-se os cílios:
Consuma-se a
Re-con-ciliação.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Você vicia! Faz as cordas vibrarem...deixa a gente sibilando... vara dentro da gente aquele som (do toque da palavra)som da velocidade ou é a velocidade do som? Eu sempre e cada vez mais me impressiono com essa sua inquieta e criativa capacidade de palavrogramar. Beijos!
É lindo e tocante, sonoramente tocante tudo o que escreve.
:)
Postar um comentário