quinta-feira, 3 de maio de 2007



Amaríssimas
As feições do homem
Que pinta o teto da capela.
Respinga do alto
Rubro de cádmio, azul de cobalto,
E o rosto do homem torna-se
Em si uma paleta.

Pigmentos sangram flores no gesso molhado.

Mundos se deslocam sob os andaimes.

Rangem os esteios, estalam as amarras
E quantos contos outrora doces
Agora se debatem na tinta e na água.
Plangentes e persistentes.

Sobre o altar,
Feixes e tendões, máquinas de músculos,
Bocas e bocas urrando silêncios.
Um emaranhado de corpos retorcidos
Num terror extasiado.
Um juízo final levantado da têmpera.

Uma gotícula de suor escorre
Pela fronte, o filete
Faz arder um olho entrecerrado.

Faz-se um deus de zarcão e alcaiade.

Mas que outro deus é esse
Aguardando no peitoril?

Em era de guerra
Mesmo em capela
Pinta-se guerra.


NY, maio de 2007

Um comentário:

un dress disse...

em terra de guerra

pinto




MaR




beijO.de
bOa.nOite.laviniA