A criatura que aterrisa no balcão da pia
é uma coisinha de cêra rosada e transparente.
Os olhos bolas pretas, esbugalhados.
Os dedos estirados agarrando o mármore,
o corpo tenso e inerte. Alerta.
A tua fragilidade e a tua pequenez
me comovem até o útero.
Mesmo assim (ou talvez, por isso mesmo)
você não cabe na minha vida.
Eu ofereço uma ponta de revista,
carona de volta à varanda.
Ela dispara parede acima, rumo a cantos escuros,
becos sem saída.
Sinto uma pontada quente de remorso.
Nalgum instante da vida fomos todos assim,
fetos espantados
apostando na tensão de superfície.
3 comentários:
este espanto
nos espalma
para a vida
lindos versos fugazes
abs, Lavínia
bem platônico heim? mas no que diz respeito a caverna eu preciso mesmo me curvar a platão, e a ti que me renovou o tapa dado pelo filósofo. (odeio admitir que ele estava certo em algo!)
bom poema.
visita-me.
f.f.
[adendo]
vi seu blog de traduções! muito legal a idéia. sensacional. comento aqui pq o dito cujo parece meio às moscas - lástima! -; digo então: "words want to be born" ficou FODA, melhor que o original (que me perdoe a hilda). vc já submeteu suas traduções de poetas brasileiros a revistas estrangeiras, tipo a granta? se não, deveria.
até.
f.f.
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