quinta-feira, 22 de março de 2007
A mesa
Entre duas conversas desencontradas
Ele dobra o guardanapo sobre a mesa,
Declara:
Sou um deserto de emoções.
Ninguém ouve. As conversas desencontradas
Prosseguem. Risos e vinhos se sobrepondo,
Uma noite indiscutívelmente engraçada.
Ele encaixa a voz no espaço entre as palavras
(Que só ele entende ser silêncio),
Se diz que está vazio.
Como se devesse sentir-se pleno,
Recheado feito um profiterole,
Cheio como a lua cheia,
A pança redonda do vizinho sebento.
Alguém pausa, reparando na sua
Ausência presente, na sua
Presência ausente.
Ela pausa no meio da risada,
Encaixa a mente no vazio
Que precede os diálogos:
Sou uma ilha de emoções.
Tudo o que tenho
Mal cabe dentro de mim, e ao meu redor,
Há só o vasto e arisco mar.
Lacrado sob vácuo,
Ele não percebe. Aos poucos
Ele vai evaporar na areia.
Aos poucos
Ela vai se afogar na água.
As taças já secas e enfileiradas na estantes,
As gargantas já lavadas do riso,
Daquela conversa jamais-tida
Sobra apenas
Uma pequenina vertigem,
Coisa pra poema.
Rio de janeiro, março de 2007
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2 comentários:
sempre
sempre
pra poema...
as ilhas assim
os desertos assado.
sempre
sempre
coisa.pra.poema.
(beleza.de.te.ouvir...) :)
o desencontro que há
no dia-a-dia seco de lágrimas
e
mesmo assim
conseguir ser-se poeta
como tu.
__________
bjs
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