palavrogramas
Lavínia Saad
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
A cada dia me faço
mais econômica
e Veloz.
Um dia serei assim:
Atômica
Relâmpaga
Monissilábica
Ó.
Viverei na pausa
das entre-palavras
no relaxar do diafragma
E apenas.
Onde: Lê-se o que bem se entender.
Quase tudo, ou quase nada.
Quase turva, ou quase clara.
O eco tem eco.
Serei então:
a antesala do silêncio.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Um ano
Vão cavernoso
Respingam
Gota, gota
Estalactitas
Pacientes.
Do nada--
Uma fita de luz!
Planam-pairam
Poeiras píxeis,
Resplandescentes.
E então:
Uma revoada de maritacas.
Alarde efêmero, meus
Origamis
Estridentes.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
Poema fácil
Se talho um poema
E ninguém o lê
O verso é afinal
Exatamente
O que?
Se lanças estrofe
Num mar de píxeis
E ninguém a vê
Lançaste poeta
Exatamente
Porque?
E ninguém o lê
O verso é afinal
Exatamente
O que?
Se lanças estrofe
Num mar de píxeis
E ninguém a vê
Lançaste poeta
Exatamente
Porque?
terça-feira, 10 de julho de 2012
segunda-feira, 9 de julho de 2012
F.F.
Tal qual dentes-de-leite
Rompendo a tenra barreira
Palavras, pulsando,
Exigem nascer.
Passo a ponta da língua
Pela dor-prazer.
Me é impossível--
impossível--
Não escrever.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Surubim
Na desova da piracema
quando pescador honesto
recolhe suas tarrafas,
o surubim, peixe de couro,
rastreia silencioso a barriga do rio.
Mas na feira de domingo
o pescador, homem de couro,
remendando a rede repete sempre:
surubim é peixe ignorante.
No São Francisco desceu
a vida toda peixe morto.
Surubim não sabe saltar.
Sai de dentro d’água e,
com a velocidade que vem,
bate com a cabeça na pedra
e morre na hora.
É essa a burrice do surubim,
apesar da carapaça que o reveste,
e do fundo escuro de leito de rio,
das esquisitices do lodo negro em que
só surubim se atreve.
recolhe suas tarrafas,
o surubim, peixe de couro,
rastreia silencioso a barriga do rio.
Mas na feira de domingo
o pescador, homem de couro,
remendando a rede repete sempre:
surubim é peixe ignorante.
No São Francisco desceu
a vida toda peixe morto.
Surubim não sabe saltar.
Sai de dentro d’água e,
com a velocidade que vem,
bate com a cabeça na pedra
e morre na hora.
É essa a burrice do surubim,
apesar da carapaça que o reveste,
e do fundo escuro de leito de rio,
das esquisitices do lodo negro em que
só surubim se atreve.
2006
segunda-feira, 30 de maio de 2011
ovo (versão 2.0)
ovo ermo
estala chora
chora morna
pura clara
clara corre
corre mole
demarrama
escorre
desliza
morre.
estala chora
chora morna
pura clara
clara corre
corre mole
demarrama
escorre
desliza
morre.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
From the mouths of babes
Out of the mottled nightsky
Into the paper-grain
Words want to be born.
Over the steaming forest
Tales demand their telling.
Snippets of songs - and beats -
Bubble up through the sea-foam:
pop! pop!
On the flatscreen dots
Dance impatiently their
Pixillated minuets. All await.
What do they say?
Hear me out! Spill me forth.
Words want to be born. And
It's just impossible
Not to write.
Out of the mottled nightsky
Into the paper-grain
Words want to be born.
Over the steaming forest
Tales demand their telling.
Snippets of songs - and beats -
Bubble up through the sea-foam:
pop! pop!
On the flatscreen dots
Dance impatiently their
Pixillated minuets. All await.
What do they say?
Hear me out! Spill me forth.
Words want to be born. And
It's just impossible
Not to write.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Fuga (2007)
A criatura que aterrisa no balcão da pia
é uma coisinha de cêra rosada e transparente.
Os olhos bolas pretas, esbugalhados.
Os dedos estirados agarrando o mármore,
o corpo tenso e inerte. Alerta.
A tua fragilidade e a tua pequenez
me comovem até o útero.
Mesmo assim (ou talvez, por isso mesmo)
você não cabe na minha vida.
Eu ofereço uma ponta de revista,
carona de volta à varanda.
Ela dispara parede acima, rumo a cantos escuros,
becos sem saída.
Sinto uma pontada quente de remorso.
Nalgum instante da vida fomos todos assim,
fetos espantados
apostando na tensão de superfície.
é uma coisinha de cêra rosada e transparente.
Os olhos bolas pretas, esbugalhados.
Os dedos estirados agarrando o mármore,
o corpo tenso e inerte. Alerta.
A tua fragilidade e a tua pequenez
me comovem até o útero.
Mesmo assim (ou talvez, por isso mesmo)
você não cabe na minha vida.
Eu ofereço uma ponta de revista,
carona de volta à varanda.
Ela dispara parede acima, rumo a cantos escuros,
becos sem saída.
Sinto uma pontada quente de remorso.
Nalgum instante da vida fomos todos assim,
fetos espantados
apostando na tensão de superfície.
domingo, 8 de maio de 2011
Dois poemas sobre o tempo
I.
Lá de onde eu vim
O tempo faz hoje de mim
Forasteira.
1997
II.
Voltando para casa
Achando-me de fora
Me disse a mesma casa:
-- Nunca foste embora.
2011
Lá de onde eu vim
O tempo faz hoje de mim
Forasteira.
1997
II.
Voltando para casa
Achando-me de fora
Me disse a mesma casa:
-- Nunca foste embora.
2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Vocação
Vocação: ir embora.
Pintei mapas nas solas dos pés
Fiz da ponta da língua
O meu compasso.
E do batuque do trem
Meu marcapasso.
Andarilha, só sei andar.
Bom filho à casa torna. Já eu
Nasci pra errar.
2007
Pintei mapas nas solas dos pés
Fiz da ponta da língua
O meu compasso.
E do batuque do trem
Meu marcapasso.
Andarilha, só sei andar.
Bom filho à casa torna. Já eu
Nasci pra errar.
2007
Agora no Facebook
Caros curiosos:
O Palavrogramas agora tem página no Facebook-- clicar aqui para acessar.
Estou pensando em me mudar.
Nada mais a divulgar.
Abs
Lavínia
O Palavrogramas agora tem página no Facebook-- clicar aqui para acessar.
Estou pensando em me mudar.
Nada mais a divulgar.
Abs
Lavínia
terça-feira, 26 de abril de 2011
Metacarpo, metatarso
Metacarpo, metatarso
Medram por entre falanges
Coisas doídas distantes
Que se arrastam
Perambulantes
(Que arrasam)
Dores errantes.
Dos meus ventrículos
(Reles
Latejantes
Prostíbulos)
Ela me perfura
Membranas:
Ai! A minha
Raiva!
segunda-feira, 25 de abril de 2011
No aniversário do Descobrimento
Outrora tão sereno
Cinqüenta margaridas de pólvora.
Ai esquecimento, ai límpido veneno--
Quanta flor plantada
Em tumba errada.
1997
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Poema para o pé: O curta
A leitora Carol Matos usou o poema infantil "Poema para o pé" (de 2006) no curta Avenida Passo a Passo, gravado para a oficina de vídeo da Mostra do Filme Livre 2011, no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro:
http://www.youtube.com/watch?v=ZOdcCqa30bg
Argumento e câmera principal: Carol Matos. Coordenação: Christian Caselli. Monitoria: Mariana Bley e Pablo Pablo.
Poema para o pé
(poema infantil)
Declamo o pé,
meu nobre pé,
conhecido apenas
pelo seu chulé,
mas que tem
muitas virtudes:
sobre tudo me carrega
pra lá e pra cá
sem nem muito
se queixar.
Quem é o pé?
Ora bolas, o pé
é nada menos que
a mão da perna.
Ou será que a mão
é que é o pé do braço?
Enfim, é o pé
que me acode
na hora de andar,
de pedalar,
de correr,
de pular,
de dançar.
E é em homenagem ao
humilde pé
que temos:
o arrasta-pé,
o pé-de-moleque,
o "ao pé da letra."
Proponho o
Dia Nacional do Pé.
E a mão?
Só se for pra
plantar bananeira.
E plantar bananeira com os pés?
Isso é chamado: “Ficar de pé.”
http://www.youtube.com/watch?v=ZOdcCqa30bg
Argumento e câmera principal: Carol Matos. Coordenação: Christian Caselli. Monitoria: Mariana Bley e Pablo Pablo.
Poema para o pé
(poema infantil)
Declamo o pé,
meu nobre pé,
conhecido apenas
pelo seu chulé,
mas que tem
muitas virtudes:
sobre tudo me carrega
pra lá e pra cá
sem nem muito
se queixar.
Quem é o pé?
Ora bolas, o pé
é nada menos que
a mão da perna.
Ou será que a mão
é que é o pé do braço?
Enfim, é o pé
que me acode
na hora de andar,
de pedalar,
de correr,
de pular,
de dançar.
E é em homenagem ao
humilde pé
que temos:
o arrasta-pé,
o pé-de-moleque,
o "ao pé da letra."
Proponho o
Dia Nacional do Pé.
E a mão?
Só se for pra
plantar bananeira.
E plantar bananeira com os pés?
Isso é chamado: “Ficar de pé.”
Como preservar um poema (para F. Talal)
Pegue o poema morto
Na palma da mão
Feito um passarinho
Pequeno
E delicado
Tenha cuidado
Tenha muito cuidado
As sílabas se soltam e
caem
Escorregam por entre os dedos
Estilhaçam no chão feito
Ossinhos
De
Porcelana
Abra bem a boca. Abra mais.
Deite o poema sobre a língua
Sem morder nem pensar num só movimento
Engula.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Perder (after Elizabeth Bishop)
Perder é fácil-- não chega a ser
Nenhuma desgraça.
É tão fácil perder que não há ninguém (ninguém)
Que não o faça.
Perder as chaves, a casa, o namorado--
Perder a hora e a cabeça:
Cada perda dói, às vezes demora,
Mas dizem (e é certo)
Que tudo passa.
Mas algumas perdas são tão perdas
Que mereciam outro nome.
Ou: o silêncio.
Essa perda (por que me faltam palavras?)
Não fere a alma-- ela
Te esgarça.
Nenhuma desgraça.
É tão fácil perder que não há ninguém (ninguém)
Que não o faça.
Perder as chaves, a casa, o namorado--
Perder a hora e a cabeça:
Cada perda dói, às vezes demora,
Mas dizem (e é certo)
Que tudo passa.
Mas algumas perdas são tão perdas
Que mereciam outro nome.
Ou: o silêncio.
Essa perda (por que me faltam palavras?)
Não fere a alma-- ela
Te esgarça.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Carta sobre a leveza (para A.)
Caro amigo.
Andei pensando.
Se você se desfizer de todo o peso que carrega
Levantará vôo e sobrevoará a cidade
Feito um padre suspenso por uma penca de balões de festa
E teu vôo terá sido sem sombra de dúvida
16 minutos duma leveza extasiante
(Seguidos dum fim indecoroso em meio a um emaranhado de cordas
Num leito de borracha colorida boiando a tres leguas do cais do porto.
Te conto, amigo querido, que
Aos meus 27 anos de idade,
No interior de um país árido
No meio duma estória que ainda se desdobra
E que de tão complicada ficará sempre para outra vez,
Cheguei à conclusão que o desafio,
Na verdade, consiste em saber:
Amarrar a cada pé uma pedra
Atar a cada braço uma bigorna
Levantar sobre cada ombro uma viga espessa
Equilibrar no alto da cabeça
Cordilheiras e cordilheiras.
E mesmo assim
Correr sob céus estrelados
Sem duvidar que a sua consciência, enquanto leve,
Te permitirá carregar
Cada fardo que encontrar
E levar no coração, com leveza
Todo -- repito -- todo o peso deste mundo.
Caro A. Suponho que você tenha nascido
Moço de fretes. Leveza is not your business.
Carrega então os teus pesos
Com alegria.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Queria muito
Queria muito não te amar.
Ou pelo menos, por tanto te amar
Saber dizer:
-- Te amo.
Em vez disso,
Eu me engano.
Por dentro eu falo,
Por fora me calo,
Por ora me dano.
Ou melhor ainda:
Finjo que não sei
(E não ouso saber)
Que te amo.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Tens a estrutura
Fina e suave.
Depois de tantos anos
As coisas assim
Ainda me enganam.
Uma curva dócil
Um toque leve
Palavras macias
Tomo nisso tudo
O viço pela arte,
Creio, e me deixo crer,
E me entrego como quem
Se revira e evazia:
Aqui me tens
Boca
lábios
entranhas,
Toma. Faz de mim
O que bem queres,
E tudo só
Porque me pareces gentil
E isso me move.
Porque tens a estrutura
Tão fina e suave.
Desengana-me
Pois.
Ya no (de Idea Vilariño)
Ya no será
ya no
no viviremos juntos
no criaré a tu hijo
no coseré tu ropa
no te tendré de noche
no te besaré al irme
nunca sabrás quién fui
por qué me amaron otros.
No llegaré a saber
por qué ni cómo nunca
ni si era de verdad
lo que dijiste que era
ni quién fuiste
ni qué fui para ti
ni cómo hubiera sido
vivir juntos
querernos
esperarnos
estar.
Ya no soy más que yo
para siempre y tú
ya
no serás para mí
más que tú. Ya no estás
en un día futuro
no sabré dónde vives
con quién
ni si te acuerdas.
No me abrazarás nunca
como esa noche
nunca.
No volveré a tocarte.
No te veré morir.
(1958)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
Resposta
E de isto somos feitos
De todas as máguas do mundo
Uns mil defeitos
Da negra boca da noite
De onde brotam
Colunas de cinzas
Da noite brava
As línguas-lava
E no entanto
Forrados os corações
(Ora praga, ora prenda:)
A mais tenra renda.
De todas as máguas do mundo
Uns mil defeitos
Da negra boca da noite
De onde brotam
Colunas de cinzas
Da noite brava
As línguas-lava
E no entanto
Forrados os corações
(Ora praga, ora prenda:)
A mais tenra renda.
sábado, 27 de dezembro de 2008
Quanta coisa vi neste mundo
Que não cabe no coração.
Vi torres de vento brotando no leito da cidade.
Contei os homens e suas catedrais.
As relvas de feltro. Maquinarias
infernais.
Capsula indocil!
Confesso: Queria ter a pele feito fibra de côco.
Em vez disso quando me nasci
Vestiram-me da cabeça aos pés
Com pelica de nêspera.
Que não cabe no coração.
Vi torres de vento brotando no leito da cidade.
Contei os homens e suas catedrais.
As relvas de feltro. Maquinarias
infernais.
Capsula indocil!
Confesso: Queria ter a pele feito fibra de côco.
Em vez disso quando me nasci
Vestiram-me da cabeça aos pés
Com pelica de nêspera.
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